quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

"A Ilha"

"De facto, depois das tentativas que já fizera, só via uma solução: mandar os dois vizinhos a mudarem-se para lados opostos da aldeia. Caso não se mudassem, o rei recusar-se-ia a perder mais tempo com os dois teimosos.


Embora não estivesse contente com a sua decisão, era a única que lhe restava e sentia-se aliviado por encerrar aquele caso. E depois, precisava de concentrar todas as suas forças naquele estranho que aparecera na Ilha. Tinha que perceber qual o seu objectivo, se viera sozinho, se atrás dele viriam outros invasores. Caso o estranho tivesse vindo sozinho, a situação seria mais fácil. Só tinha que decidir se se devia dar a conhecer ou não. Se se tratasse de um homem de confiança, poderia até integrar-se na aldeia, no seu povo, ser um dos seus.

No entanto, havia a possibilidade de ele ser somente o primeiro de muitos outros, de estar apenas a abrir caminho para os novos invasores. O jovem rei não sabia como lidar com a perspectiva de uma nova invasão." in "A Ilha" disponível no Google Books

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

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"Dívida de Honra"

"- E as pessoas? O que é que acham?
- Estão na expectativa, claro. Qualquer um de nós está na expectativa. Nós chegámos a achar que o nosso projecto não ia avançar. Mas parece que o Governo Provisório se preocupa com a ciência e lá arranjaram maneira de nos deixar vir. E conseguiram arranjar dinheiro, um milagre, certamente, mas arranjaram. – Renato não era capaz de pensar em mais nada, ficando em silêncio por alguns momentos.
Sentia o seu abdómen contrair-se e relaxar-se repetidamente e com uma rapidez crescente, de tal forma que achava que Catarina conseguia ver os movimentos.
De facto, ela não conseguia ver, mas adivinhava-os."
"Era mais um encanto daquele homem. Tinha aquele ar robusto, confiante e agarrara-lhe a mão como quem tinha a certeza de que era isso mesmo que queria fazer, mas as pernas tremiam-lhe perante a possibilidade de ela poder ter razões para não querer ser associada a ele daquele modo.
- Eu quero, não é preciso ter medo. Foi uma reacção impulsiva, impensada. – Renato voltou a agarrar-lhe a mão com a mesma confiança e dirigiu-se a casa de Maria, perante os olhares dos seus vizinhos, alguns directos e outros escondidos pelas portadas de madeira entreabertas.
Bateu à porta e Maria apareceu, não conseguindo disfarçar a surpresa ao ver Catarina. A surpresa aumentou ao ver que estavam de mão dada e Catarina apercebeu-se, levando-a a puxar a sua mão. Mas Renato não a deixou soltar-se."
in "Dívida de Honra" disponível em www.bubok.pt

terça-feira, 30 de novembro de 2010

"A Ilha"

"Os víveres que trouxera amontoavam-se no chão, misturados com as sementes e os rebentos que planeava plantar nos dias seguintes.
Depois de comer, sobrou-lhe pouca ou nenhuma coragem para continuar a por as coisas em ordem. De qualquer maneira, também não precisava de fazer tudo na primeira noite.
Procurou nos sacos uma coberta. Sabia que trouxera duas, bem como uma imensa pele que lhe custara os olhos da cara mas, por mais que procurasse, não as conseguia encontrar. Ou, se calhar, o cansaço ajudado pela falta de paciência não lhe deixavam discernimento suficiente para procurar bem.
Mas a pele lá acabou por aparecer.
Estendeu-a à frente da lareira e deitou-se, adormecendo pouco depois.
Algumas horas mais tarde, o fogo extinguiu-se."
"Embora estivesse certo que não convencera os Anciãos acerca das boas intenções de Morten, o jovem rei acabou por desistir. Afinal, o mais importante estava feito, dizer-lhes que ele tinha que ser protegido como se um olec se tratasse e eles pareciam ter aceitado isso. No dia seguinte, quando falasse com os aldeãos sobre a possibilidade de terem de enfrentar uma guerra, como ficara decidido na reunião com o Conselho dos Anciãos, teria também a oportunidade de lhes contar sobre a presença de Morten e de lhes pedir que o ajudassem no que fosse necessário."

O Grupo "Os Meus Livros - Luz de Lisboa" passo a passo

by Sandra Terenas Moreira on Monday, November 29, 2010 at 6:03pm

Com a vossa ajuda, o nosso grupo "Os Meus Livros - Luz de Lisboa" já chegou aos 100 membros. Obrigada!
Por isso, peço-vos que me continuem a ajudar para chegarmos aos 200.
Para tal, basta que partilhem no vosso mural o link do grupo


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ou o endereço do blogue onde podem ficar a conhecer melhor os livros

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e assim todos os vossos amigos poderão fazer o mesmo. Podem também divulgar junto dos vossos amigos, via email!
Obrigada!


"Os Meus Livros - Luz de Lisboa" Group step by step



With your help, our group "Os Meus Livros - Luz de Lisboa" has now more than 100 members. Thank you!
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and that way all your friends can do the same. You also can do it with your friends, through the email list.
Thanks!

domingo, 21 de novembro de 2010

"O Cravo e a Sepultura"

"Uns lotes ficaram maiores que outros, mas aquele que era agora seu era o mais pequeno de todos.


Lembrava-se de, em criança, passar de carro pela estrada fronteira e ouvir as mesmas histórias vezes sem conta. Tinha tanta raiva do seu antepassado que jurava que quando crescesse compraria todos os lotes e tornaria a transformá-la numa imensa propriedade.


Os pais riam-se, quer da utopia, quer daquilo que viam apenas como um sonho de criança. Nunca ninguém acreditou na sua vontade de reerguer das cinzas aquela propriedade. E fora essa descrença a sua maior força para, em adulto, avançar com o seu sonho.


Sempre fora de ideias fixas e sempre conseguira o que queria, levasse quanto tempo levasse. Desta vez não seria diferente.


Começara devagar, é certo, já que o dinheiro era pouco, mas começara. " 

"Era, de facto, um elemento estranho e, aparentemente, deslocado do cenário. Não tinha qualquer identificação, era impossível saber quem ali repousava.


Mas o mais estranho de tudo era o facto de ser solitária.

De facto, nas restantes propriedades não eram conhecidas quaisquer sepulturas.


Segundo o povo, ali estava sepultado um indigente e por isso fora ali posto, já que aquela propriedade estivera abandonada por longos anos. Outros ainda defendiam que o túmulo vinha dos tempos do senhor da terra e que fora ali posto porque guardava o corpo de um vampiro. Tratava-se de chão sagrado, diziam, logo, a melhor prisão para um ser demoníaco."
in "O Cravo e a Sepultura"

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"Dívida de Honra"

"- Já. E não vou.


Nós tivemos uma bela aventura, meu amigo, mas só fazia sentido continuá-la contigo, por isso, vou seguir a minha vida noutro lado. – Luís estendeu a mão a Aníbal e este apertou-a, puxando-o para si e abraçando-o.

Os dois soltaram-se depois de longos instantes e Aníbal entrou no carro, partindo. Sentia-se mais feliz do que alguma vez se sentira.

Luís saiu de seguida, dirigindo-se para um café no centro da cidade. Pela montra, viu Catarina sentada a uma mesa, lendo o jornal.

- Bom dia.

- Olá. – respondeu ela com um sorriso. Aprendera a gostar de Luís naquelas últimas semanas. Era um bom amigo.

- Já partiram?

- Já.

- E agora? O que é que vais fazer?

- Não sei. E pela primeira vez na vida, não estou preocupado com isso. – ela sorriu."

"- Posso fazer alguma coisa por si?


- Consegue apagá-lo das minhas memórias?

- Não, claro que não. – respondeu Júlia, percebendo que nada poderia fazer que ajudasse Catarina a sentir-se melhor.

Na realidade, Júlia sentia-se agora dividida. Queria ficar com Catarina, fazer-lhe companhia, talvez distrai-la um pouco daquele momento doloroso, mas ansiava por voltar para Aníbal.

- Catarina, eu sei que este não é o melhor momento, mas tenho que voltar para a cidade. É melhor preparar-se.

- Será que seria pedir muito se eu quisesse ficar aqui mais uns dias? – Júlia ficou um pouco surpreendida com o pedido de Catarina, mas era compreensível. Ela tinha ainda uns dias antes de voltar ao trabalho e ficar naquele sítio tranquilo talvez a pudesse ajudar."

in "Dívida de Honra"

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"O Cravo e a Sepultura"

"Ficara sempre acordado, incapaz de dominar aquela alegria de ter conseguido parte do seu objectivo e de se sentir, pela primeira vez na vida, em sua casa. Afastara-se apenas para ir buscar um cigarro.
O seu último olhar fora para a sepultura e, quando voltou, o primeiro voltou a ser para ela. E, para seu espanto, algo mudara.
Pareceu-lhe ver um objecto pousado sobre a campa, um objecto colorido, mas não conseguia perceber o que era.
Saiu de casa e aproximou-se da sepultura, tentando descortinar do que se tratava, mas a Lua escondera-se por detrás das nuvens, escurecendo tudo. Teve a sensação que alguém fugia, saltando o pequeno muro coberto de musgo que separava a sua propriedade da vizinha."
"O Cravo e a Sepultura"
"Quando a noite caía e Daniel saía para esperar por ela, encontrava apenas a sepultura, sozinha, vazia por fora, quase como se não valesse nada sem o cravo vermelho.
Sentia-se triste, ainda mais triste perante aquele cenário. Ali ficava, acordado, desesperado, com os olhos o mais escancarados possível, pestanejando o menos que fosse capaz, com medo de, ao perder alguns segundos de visão, perder também a hipótese de a ver.
Mas, noite após noite, ela continuava sem aparecer, deixando-o cada vez mais vazio. De manhã, voltava para casa e dormia, até a noite chegar novamente.
Mesmo o seu sono não conseguia ser sossegado, ausente daquela mulher, daquele espectro."
in "O Cravo e a Sepultura", "Pequenas Histórias para Entreter"

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Algumas personagens de "A Ilha"

   Algumas personagens de "A Ilha"

  Fyidin
Fyidin seria capaz de qualquer coisa para proteger Freyja.
Mais racional que ela, uma característica rara entre o seu alegre povo, é o seu grande ponto de equilíbrio.
Ágil, pertence a uma elite que foi treinada para dar a vida pela segurança do seu mundo e vai ter a oportunidade de demonstrar as suas capacidades ao lado de outros de uma espécie diferente.
Prefere manter a distância daqueles que não os seus, pois é prudente e aprendeu com o passado que, não raras vezes, o inimigo se disfarça de amigo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

"Os Últimos a Sair"

"- Diabos? Eu não consigo entender essa expressão… - a conversa foi interrompida por um grito de um dos agentes.


A primeira das pessoas a ser libertada estava à porta do edifício, fazendo sinal com um lenço de papel branco para que a deixassem sair.

- Aposto que também aquela mulher te vai conseguir explicar o que se está a passar dentro da cabeça do homem que a manteve refém… Até aposto que ela está do lado dele.

- Ai… Não vens tu também com aquela conversa da síndrome de Estocolmo…"

"- O que aquela mulher disse…


- Eu já vivi tudo o que aquela mulher disse e muito mais do que isso. E esse António também. É por isso que ele está lá dentro, com uma arma, em busca de alguma justiça, mas, sobretudo, em busca de por um fim a isto. Deixa-o. Deixa-o fazer o que ele tem a fazer.

- Ouviste bem o que acabaste de me pedir? Eu não posso deixar que um homem mate outro, por mais razões que ele tenha. E desculpa lá que eu te diga, também não me parece que tenha assim tantas… - João levantou-se e agarrou um braço de Correia com toda a força que as algemas lhe permitiam ter." in "Os Últimos a Sair", "Pequenas Histórias para Entreter"

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Dívida de Honra"


"Aníbal estava de pé, em frente ao poster com a fotografia de Ricardo. Fora por causa daquele homem que chegara até ali, que virara a sua vida do avesso, que lutara contra um regime instalado no poder há quase um século e mesmo contra um povo que, apesar de saber que era o melhor que lhe podia suceder, estava há tantos anos acomodado que temia a mudança mais do que tudo.


E, afinal, ninguém sabia dele.

Muitos, muitos mesmo, o tinham tentado convencer que ele morrera, que as histórias que diziam que Ricardo fugira do País e desaparecera no mundo eram apenas fruto da imaginação popular que criara um mito ao qual desesperadamente se agarrava, como se se tratasse de uma bóia de salvação.

Mas Aníbal sabia que ele estava vivo. Tinha a certeza." in "Dívida de Honra" em http://www.bubok.pt/

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

"O Filho da Oliveira"

"Filha de um respeitado alfaiate viúvo, não tinha nem irmãos nem irmãs. Nascera prometida a Neymun, o jovem mais rico da aldeia e de todas as suas redondezas, dono de uma simpatia divinal mas também de um orgulho demasiado grande para ser contido dentro do corpo de um homem, e tivera, até ao infeliz encontro, a mais feliz das existências." in "O Filho da Oliveira"
"O Filho da Oliveira"

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

"Dívida de Honra"

"Renato ficou a contemplar a mesa durante algum tempo, como se procurasse inspiração para se sentir tão entusiasmado como no dia anterior. Mas apesar de se sentir melhor desde que chegara a casa, não conseguia estar tão confiante no interesse de Catarina. Aliás, sentia mesmo pouca confiança em si próprio, nas suas capacidades para manter o interesse de Catarina. Afinal, ele era muito mais velho do que ela.


Talvez Catarina estivesse apenas entusiasmada com a possibilidade de ter algo com um homem mais maduro e decidisse largar tudo quando estivesse satisfeita com a experiência. Ou farta.

- Tenho que afastar estas idiotices da minha cabeça… – disse alto, como se isso fosse capaz de mandar para longe aqueles pensamentos.

Através das frestas das portadas entreabertas, o Sol penetrava na casa de Renato."
 
 
"O primeiro disco em que pegou era de Strauss. Era romântico, mas Catarina poderia não gostar. Lizst também era romântico, mas talvez melancólico demais. Chopin, era isso mesmo, ela gostaria de Chopin, certamente. Mas, para ser honesto, sentia-se sempre um pouco deprimido quando ouvia Chopin.

Voltou a Strauss, depois de pegar em quase uma dezena de discos. Não havia amor como o primeiro e com Strauss até poderiam dançar.

Renato não se lembrava da última vez que dançara. Certamente que fora com a sua mulher, mas não conseguia recordar-se exactamente do momento, o que o fez perceber como as memórias daquela vida que deixara na cidade se estavam a esbater."


quinta-feira, 30 de setembro de 2010

"A Ilha"

"O velho anão já não tinha forças para acompanhar as rápidas corridas do jovem príncipe. Principalmente depois de lhe ter contado pela enésima vez a história dos seus pais.


- Anda, porque esperas? – perguntou o jovem, olhando para trás.

- Meu príncipe, tem que me dar um desconto. Eu não consigo acompanhar o seu ritmo. Já estou velho para estas caminhadas.

- Vamos, eu dou-te uma ajuda. – respondeu-lhe o príncipe, pegando no anão e empoleirando-o nas suas costas, encaixado entre as suas enormes asas e envolvido pelos seus longos cabelos negros como a noite estrelada."

"O Ancião que liderava a cerimónia elevou a voz, procurando chamar a atenção da multidão. Também ele dera pelo ruído e, tal como o rei e os aldeãos, não sabia do que se tratava, mas, fosse o que fosse, aquele casamento seguiria até ao fim e ele não deixaria que nada, mesmo nada, a interrompesse.

De repente, a alma de Freyja encheu-se de brilho, de um encantamento como nunca tivera, como se fosse rebentar. Não conseguiu controlar um sorriso e olhou para trás, segurando com força a mão do seu jovem rei.

Sabia que aquele ruído não lhe era estranho. Ali estavam eles, os seus amigos, os seus súbditos, o seu povo. Com as centenas de asas a baterem como nunca tinham batido, provocando uma suave brisa e um ruído que embalava as palavras das melopeias do coro."

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

"Dívida de Honra"

"E a carta do meu primo também não explica nada. Ele não sabe escrever muito bem… – o homem estendeu a carta a Renato, que cada vez percebia menos o que se estava a passar.


Olhou para Pedro, que mexeu o braço, agitando o jornal e a carta para que Renato lhes pegasse. Agarrou nos dois e, segurando a carta entre dois dedos, sacudiu o jornal. Percorreu a primeira página com os olhos, apressadamente, procurando algo que se referisse à sua vida na cidade, mas não encontrou nada. Apenas uma fotografia enorme, a ocupar quase a totalidade da página, de um ajuntamento de gente, aparentemente feliz, de braços no ar e sorrisos de orelha a orelha. No topo da imagem, podia ler-se a palavra Revolução."

"Dívida de Honra"

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"A Ilha"

"Segundo os éditos, esta era quinta vez que o caso era levado ao rei, que se via assim compelido a tomar uma decisão drástica.


De facto, depois das tentativas que já fizera, só via uma solução: mandar os dois vizinhos a mudarem-se para lados opostos da aldeia. Caso não se mudassem, o rei recusar-se-ia a perder mais tempo com os dois teimosos.

Embora não estivesse contente com a sua decisão, era a única que lhe restava e sentia-se aliviado por encerrar aquele caso. E depois, precisava de concentrar todas as suas forças naquele estranho que aparecera na Ilha. Tinha que perceber qual o seu objectivo, se viera sozinho, se atrás dele viriam outros invasores. Caso o estranho tivesse vindo sozinho, a situação seria mais fácil. Só tinha que decidir se se devia dar a conhecer ou não. Se se tratasse de um homem de confiança, poderia até integrar-se na aldeia, no seu povo, ser um dos seus."

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"Os Últimos a Sair"

"Os Últimos a Sair" in "Pequenas Histórias para Entreter"

"- E o que é que te diz a ti que a minha consciência fica descansada por saber que fiz algo para impedir um homem de cumprir o seu desejo?



- A sua vingança, queres tu dizer?


- Talvez seja mesmo uma vingança, mas eu não tenho direito de o impedir. Tal como ninguém teria o direito de me ter impedido.


- Não sentes sequer um leve arrependimento?"

"Os Últimos a Sair"



"Acho que nenhum de nós vai ser capaz de lhe explicar o que se passava ali… Aquilo tinha que ser vivido. Há um colega nosso que diz que entre isto e uma ida à sede da PIDE não havia diferença nenhuma. E ele sabia do que estava a falar, porque foi várias vezes à António Maria Cardoso. – Correia franziu o sobrolho."

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

What would you liked most to read next?

The story of a man who dies and accidentally ends up at the children's heaven?

or

The story of two brothers who get lost and end up in a village inhabited by two families who are not in speaking terms for more than 20 years?

O que é que gostavam mais de ler a seguir?

O que é que gostavam mais de ler a seguir?


A história de um homem que morre e, acidentalmente, vai parar ao céu das crianças?

ou

A história de dois irmãos que se perdem e acabam numa aldeia habitada apenas por duas famílias que não se falam há mais de 20 anos?

Qual o vosso preferido?

Qual é o vosso preferido? "A Ilha", "Dívida de Honra" ou "Pequenas Histórias para Entreter"?




"Largara tudo por um sonho, por aquele sonho que estava ali à sua frente.

Era pequeno, é certo, mas era seu. Também era deserto, mas esse era um dos seus objectivos.

Queria isolar-se, queria um sítio só seu. E conseguira." in "A Ilha"



"Aquela era, provavelmente, uma das regiões mais frias do planeta.

A floresta, as casas que rareavam, os poucos caminhos, mantinha-se tudo disfarçado pelo manto de neve durante cerca de nove meses, após o que se revelavam, timidamente, por algumas semanas." in "Dívida de Honra"



"A luxúria e a ambição tinham acabado com ele, embora a sua vida tivesse sido bastante longa para os padrões da época. Os homens daquele tempo, mesmo os senhores feudais, costumavam viver até aos 40 anos." in "O Cravo e a Sepultura", "Pequenas Histórias para Entreter"



Aqui ou no Facebook, através do grupo "Os Meus Livros - Luz de Lisboa http://www.facebook.com/topic.php?topic=184&uid=147661828589932#!/group.php?gid=147661828589932

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"A Ilha"

"Este cenário de deserto gélido era reconfortante para Morten. A solidão, a certeza que não encontraria ninguém para lhe dizer isto ou aquilo, para o criticar, para o apontar, eram o garante do seu descanso.

Quando decidira mudar-se para a Ilha, muita gente lhe dissera que aquela solidão ser-lhe-ia agradável a princípio, mas que duraria para o resto da vida e que isso tornar-se-ia, provavelmente, insuportável.

Discordava completamente daquela visão.

A solidão nunca o assustara, pelo contrário."

"Morten tentou habituar os olhos à escuridão, mas era impossível distinguir o que quer que fosse.

De repente, percebeu. Exceptuando o vento que corria agora rapidamente lá fora, o silêncio era total. Adormecera embalado pelo consolador crepitar da lenha no fogo e este apagara-se. Acordara com a ausência desse ruído acolhedor.

Com alguma cautela, procurando evitar pisar as cinzas ainda quentes, Morten levantou-se e espreitou pela rudimentar chaminé.

Estava a amanhecer."

terça-feira, 7 de setembro de 2010

"A Mulher da sua Morte"

"A Mulher da sua Morte" in "Pequenas Histórias para Entreter"

"A Mulher da sua Morte"

"Bóris tinha a certeza que arranjaria sarilhos se fosse visto por ali àquela hora da noite, mas não conseguia deixar de lá voltar desde que se encontrara com aquela mulher pela primeira vez.


Sem perceber porquê, não fora capaz de lhe resistir. Sem qualquer explicação, o estranho toque dela, o cheiro que emanava e as suas carícias eram impossíveis de esquecer. E mesmo que o fossem, Bóris tinha sempre o pequeno golpe no ombro que ela lhe fizera. Por isso regressava todas as noites na esperança de a reencontrar."

domingo, 5 de setembro de 2010

http://castelodasandrix.wordpress.com/2010/09/05/favoritasfavs-3/

"Dívida de Honra"

"O seu último pensamento antes de adormecer foi para a idiotice de se preocupar com as olheiras, mas quando Aníbal acordou, a primeira coisa que fez foi certificar-se que estava com um aspecto mais descansado.


Quando se olhou ao espelho, pela primeira vez em muitos anos, Aníbal gostou de se ver. Sentia-se confiante e isso parecia reflectir-se no seu rosto.

Aquela imagem no espelho trouxe-lhe à memória um homem que já fora um rapaz cheio de certezas nas suas capacidades e que, sem perceber nem como, nem quando, nem porquê, perdera tudo.

Mas estava de volta. "

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"As Luzes que Iluminam a Minha Vida"

http://castelodasandrix.wordpress.com/2010/09/03/the-lights-that-light-my-life-part-4-working-title/

"Cautelosamente, desloco a língua em redor da parte superior do peito dele e depois de saborear o suor agridoce que lhe brota de cada um dos poros, encontro uma protuberância demasiado rija para ser ignorada.


Pequena, arredondada e determinada. Esforça-se por amolecer, não quer dar nas vistas, mas não consegue."

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

"Os Últimos a Sair"

"Os Últimos a Sair" (in "Pequenas Histórias para Entreter")

"Os Últimos a Sair"
"- Não. – o PSP percebeu que a resposta era sincera e calou-se. Quando lhe tinham pedido que fosse buscar João para ajudar a polícia naquele caso, tivera a sensação que era uma decisão errada, um pedido que teria poucos ou nenhuns resultados práticos. Confiavam que João se arrependera do que fizera, depois de vários anos de cadeia, mas ele tinha a certeza que ele voltaria a proceder exactamente da mesma forma.



Quando chegaram junto ao edifício onde o homem se barricara, no centro de Lisboa, João sentiu um aperto no peito ao ver o aparato todo, a rua cortada ao trânsito, todos aqueles carros-patrulha, os polícias, os curiosos. Era tudo exactamente igual.


Os dois PSP saíram do carro e trancaram-no, dirigiram-se aos companheiros que tomavam conta da ocorrência. Pouco depois, o PSP que conduzira o carro voltou."

terça-feira, 31 de agosto de 2010

"A Ilha"

"A Ilha"

"Tinham razão. Eram muito diferentes e talvez não fosse possível. Começava a pensar que tudo aquilo nada mais fora do que uma loucura e que talvez o preço a pagar por a levar avante fosse tão elevado que não valesse a pena.



Pediu à Assembleia que lhe desse uma semana, um prazo que consideraram razoável, e continuou com a discussão dos problemas do dia-a-dia.

Como sempre, não eram muitos e ficaram rapidamente despachados, o que se revelou um alívio para Freyja. Ao contrário do que esperava, o seu coração estava agora ainda mais apertado. Precisava de descansar. E de encontrar um ombro amigo."


"O jovem rei percorreu todo o castelo, mas sem qualquer sucesso. Nem um sinal dos dois.



De volta à Praça de Armas, chamou o seu servo e os dois voltaram ao castelo. O jovem rei estava convencido que Morten e Fiydin tinham saído por um motivo.


Já no bosque encontraram Fiydin, caminhando de cabeça baixa em direcção ao castelo.

- O que sucedeu? – perguntou o jovem rei. O anão abriu os olhos o mais que pode, como se repetisse a pergunta.


- Ele partiu. Tentei impedi-lo, disse-lhe que era uma loucura meter-se no bosque à noite, mas ele não pareceu muito preocupado e seguiu caminho."

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Pequenas Histórias para Entreter"

"Pequenas Histórias para Entreter"

"O Avião"

"O Avião" in "Pequenas Histórias para Entreter"

"Por fim, a alguns metros de distância, Simão viu o balcão que procurava. Olhou em redor cuidadosamente, observando todas as caras com detalhe. Havia mulheres novas, velhas, de meia-idade, bonitas, feias, modernas, conservadoras. Havia as que lhe retribuíam o olhar para fugirem logo de seguida, as que nem sequer olhavam e as que se mantinham fixadas nele como se tivessem uma cola invisível.
Havia homens altos, baixos, magros, gordos, de fato completo, informais, com bagagem, sem bagagem, de havaianas, de botas, com portáteis, com livros, brincando com o telemóvel, procurando nervosamente um qualquer contacto no PDA.
Todos o olharam, todos observaram o seu olhar e todos fugiram de imediato."


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

http://castelodasandrix.wordpress.com/2010/08/27/%e2%80%9cas-luzes-que-iluminam-a-minha-vida%e2%80%9d-%e2%80%93-parte-iii/

"Ele massaja o ombro marcado no local onde os meus dentes tinham passeado muito pouco delicadamente. Fixa o olhar nas marcas das mandíbulas da predadora, como que a contemplar o ferro ao qual pertencia agora."

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

"O pior guarda-redes do mundo"



"Dívida de Honra"


"Renato sempre adorara os momentos em que fingia ser o pior guarda-redes do mundo e deixava entrar os golos dos seus pequenos homenzinhos. Depois, eles atiravam-no ao chão e lançavam-se sobre ele, atacando-o com cócegas e obrigando-o a rebolar. Seria capaz de ficar assim para o resto da vida.
E sempre achara que a alegria aqueles momentos nunca se iria embora, que se prolongaria e passaria para os seus netos.
Que um dia seriam os filhos dos seus homenzinhos a atirarem-no ao chão e a atacá-lo com cócegas. Fora, de facto, o grande sonho da sua vida. E agora, ao olhar para aquela rua vazia que o Sol iluminava tão raramente, percebia, do modo mais violento, que o seu sonho nunca se concretizaria."

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

"Dívida de Honra"

"Dívida de Honra" (disponível em www.bubok.pt)

"O lugarejo tinha pouco mais de 15 casas, baixas, pequenas, com beirais de madeira rendilhados e paredes que já haviam sido coloridas.
As casas alinhavam-se ao longo de um estreito caminho direito que não levava a lado nenhum e à sua volta árvores, árvores e mais árvores.
E árvores. Altas, esguias, de folha perene, agulhada, que vergavam ao peso da neve como se estivessem a suportar chumbo. Mas mantinham-se sempre de pé.
Ao longe, um lago, um enorme espelho de água que se cobria de gelo durante os nove meses de Inverno. No curto Verão, um Verão que mais parecia uma Primavera sem muita vontade de o ser, os homens do lugarejo reuniam-se na sua margem para pescarem. A pescaria quase nunca era bem sucedida, mas garantia sempre alguns dos melhores momentos da vida daqueles homens.
Renato costumava sentar-se, à distância, acompanhado de um livro e, quando precisava de descansar os olhos, entretinha-se a observá-los."

sábado, 21 de agosto de 2010




"Dívida de Honra" de Luz de Lisboa

em www.bubok.pt

http://www.bubok.es/comprar/quotDivida-de-Honraquot/id=188926

“Renato é um homem que fugiu do seu passado pouco honroso enquanto agente da polícia política, isolando-se numa pequena aldeia cujos habitantes desconhecem a sua identidade.
A aldeia recebe um grupo de cientistas e Renato apaixona-se por uma delas, Catarina, uma mulher mais nova cujo passado se cruzara com o dele, sem que ambos o saibam.
Este passado comum vai comprometer a relação.
O regime totalitário que dominava o país quando Renato fugiu sofre grandes mudanças e um dos homens responsáveis pela jovem democracia, Aníbal, faz também parte do passado de Renato. Tem para com ele uma dívida de honra, bem como uma estima e admiração profundas. E não nada o fará desistir de o encontrar…"

pequenas histórias.wmv

A ILHA.wmv

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

“O Cravo e a Sepultura”



“O Cravo e a Sepultura”, in "Pequenas Histórias para Entreter" (www.bubok.pt)


"Ajoelhou-se junto à sepultura e percebeu enfim o que era o objecto suspeito. Uma flor, um cravo vermelho, fresco, tão fresco que se o sacudisse soltaria de certo uma pequena chuva de pequenas gotas.
Voltou a olhar em redor. Afinal, não fora apenas impressão sua, alguém estivera realmente ali. O seu coração começou a bater mais depressa."

"Pegou no cravo e roçou-o suavemente pelo rosto, desfrutando do fresco das pétalas na sua pele. Cada vez que fazia tal ficava com a sensação que o cheiro ficava impregnado em si, como se fosse seu.
Acabou por adormecer, encostado à sepultura."

"Já quase sentia falta daqueles olhares desconfiados de quem por ele passava, das pessoas que paravam a observá-lo como um qualquer animal raro."



quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Jovem Rei de "A Ilha"

O jovem rei dos olec’s, o povo dominante na ilha, é forte e determinado.
Curioso, e acreditando que para melhor reinar teria que conhecer o resto do mundo, viajou pela terra dos homens, os maiores inimigos do seu povo. Temendo a insensatez própria da sua pouca idade, o seu povo temeu que o jovem rei não regressasse ou que, no mínimo, voltasse diferente do rapaz que os iria liderar no futuro.
Mas o jovem rei regressou à ilha, exasperado com a vida que conhecera na terra dos homens e convencido que estes nada mais poderiam ser que não seus inimigos e determinado a fazer qualquer coisa para impedir que os dois povos se voltassem a cruzar.
Apaixonado por Freyja, debate-se com a dificuldade em entender como seria possível liderar o seu reino e manter aquela união sem criar uma situação complicada com o povo dela.
Sem se deixar abater, convencido que será capaz de ultrapassar todas as dificuldades, o jovem rei vai ter dois desafios gigantescos pela frente, reunidos numa única pessoa: um homem.

Nova história (em progresso)

http://castelodasandrix.wordpress.com/2010/08/19/%e2%80%9cas-luzes-que-iluminam-a-minha-vida%e2%80%9d-working-title-parte-i/

quarta-feira, 18 de agosto de 2010


Obrigada pelas amáveis palavras, "Admirador Secreto" (?).
Existem, sim, outras histórias do mesmo género de "A Ilha" e prometo que dentro em breve vai poder lê-las. Experimente ler as "Pequenas Histórias para Entreter"...


Quanto a ti, Bardo, não existe uma sequela de "A Ilha". Nem uma prequela. Mas, quem sabe, talvez um dia...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Personagens principais


A Ilha

A Ilha é, mais do que um cenário, a personagem principal do livro.

Ao contrário do que muitos idealizam, esta ilha não tem palmeiras à beira-mar nem resorts de luxo. Trata-se, sim, de um local perdido no meio do mar, isolado do resto do mundo e do tempo e que todos aqueles como nós, os que (sobre)vivem do lado de cá, julgam ser completamente deserto.

Uma vasta planície de gelo puro, quase um espelho, que se estende até ao mar revolto e agreste, determinado a afastar os indesejados. Ventos cortantes que assobiam, uma velha cabana degradada mas ainda assim acolhedora e uma floresta cerrada, feita de árvores que se diria poderem animar-se sempre que quiserem, que esconde outros mundos: é a depois dela que algumas das personagens vivem e se protegem.

E é algures dentro dela, num outro tempo, numa outra dimensão, numa ilha à parte da própria ilha, que habitam outras personagens...


O Mundo de Freyja e Fiydin


Este é mais um cenário que é quase uma personagem.

Paradigma de tudo o que de mais bonito existe na vida, é a casa maior de duas das principais personagens de "A Ilha".

Belas flores que crescem livremente, quase sem precisarem de rega, árvores que parecem embalar os pequenos habitantes nos seus ramos.

Erva fresca e alta, permanentemente orvalhada, no meio da qual os habitantes brincam às escondidas. O céu é sempre azul e o Sol brilha mesmo quando no mundo lá fora tudo está coberto por nuvens tão negras como a noite.

Este mundo só pode ser encontrado se os seus habitantes assim o desejarem. Ao longo dos tempos desenvolveram a capacidade de manter o seu mundo fechado a sete chaves, abrindo-o apenas a quem o merece e que com ele pode aprender algo de novo.

Diz-se que se situa algures no meio da floresta, mas poucos o conseguem ver...

Freyja

Freyja é, tal como o seu mundo, uma criatura especial.
Embora pertença a uma espécie não-humana, é mais humana de todas as personagens: hesita entre o amor de um homem que mal conhece e aquele que sempre pensara ser o amor da sua vida.

Hesita entre casar com o amor de sempre contra a vontade do povo que lidera.
Mas não hesita em levar para o seu mundo protegido um homem que acaba de conhecer.

Pequena, à semelhança de todos os seus conterrâneos, chama a atenção pela sua pela extraordinariamente branca e pelos cabelos negros como as penas de um corvo, mas, sobretudo, pelas suas asas que quase nunca deixam de se agitar.

Herdou o reino do seu pai e, tal como os seus antecessores, não tinha qualquer preparação para as responsabilidades de reinar, embora essa seja, de facto, a sua maior vocação.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

"A Ilha" no Google

http://books.google.pt/books?id=NBIg21vhGCAC&printsec=frontcover&dq=%C2%B4%22A+Ilha%22+Luz+de+Lisboa&source=bl&ots=PR0jN4Mh4y&sig=joYpyrmKJ-XtTyNZGEFacMGmNlc&hl=pt-PT&ei=c1tiTIiFG9OQjAft1PSlCQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CBsQ6AEwAg#v=onepage&q&f=false

Uma manhã, aconteceu


"Alguém que ele não conhecia de lado nenhum conseguira que visse a verdade que ele não queria aceitar por nada. Apesar de considerar aquela Ilha como sua, apesar de acreditar que mais ninguém a habitava, aquela pequena mulher fizera-o despertar para a realidade.
-Eu comprei esta Ilha para viver em paz, sozinho.
- Porque é que alguém quer viver sozinho? É tão triste...
E depois, compraste esta Ilha a quem?"

"Uma manhã, aconteceu. Abriu os olhos e lá estava ela, sorridente, agachada junto a ele. Estava vestida de azul, um azul tão claro que mais parecia água transparente, o mesmo azul que cobria as pequenas asas. Morten interrogou-se se todos os vestidos dela teriam asas. Queria perguntar-lhe mas receava que muitas questões fossem demasiadas e acabassem por a afastar, tal como temia que, se não fizesse perguntas, se permanecesse calado, ela se fosse embora."

"Depois de dominar a surpresa, o rapaz sorriu e estendeu a mão ao príncipe, apertando-a com força. Esperava encontrar tudo naquela Ilha menos uma criatura estranha da sua idade que parecia conhecer a sua língua. Mas bastava-lhe olhar para ele para perceberem que poderiam ser camaradas. Aqueles olhos azuis inspiravam-lhe uma confiança imensa, como nunca tivera em ninguém.
- Obrigado. Venho à procura do meu pai. "

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Livros de Luz de Lisboa



"A Ilha", de Luz de Lisboa

“Quantos de nós seriam capazes de dar a vida para salvar o melhor amigo?
E se ele fosse o futuro marido do amor da nossa vida?”

“A Ilha” é um romance de ambientes fantásticos no qual se cruzam criaturas que saltam da nossa imaginação para a realidade e seres humanos, entre guerras e paixões.
Tudo começa quando um homem só e desiludido com a vida resolve comprar uma ilha isolada que julga desabitada.
Contudo, a Ilha reserva-lhe algumas surpresas e vai dar-lhe o melhor e o pior que um ser humano pode desejar: amigos, um amor e uma guerra.




"Pequenas Histórias para Entreter", de Luz de Lisboa



“Fantasmas apaixonados por humanos, humanos obcecados por fantasmas, homens levados ao desespero por outros, gente enamorada por alguém que nunca viu.”

“Pequenas Histórias para Entreter” reúne cinco pequenas histórias (“O Cravo e a Sepultura”; “Os Últimos a Sair”; “O Avião”; “A Mulher da sua Morte”) escritos para entreter o leitor.
Assim, “O Cravo e a Sepultura” é a primeira das “Pequenas Histórias para Entreter” e fala-nos de um homem obcecado por uma fantasma que está apaixonada por ele, julgando-o o seu amor há muito perdido.
Já no conto “Os Últimos a Sair” encontramos dois homens, um desesperado com a crueza do mundo do trabalho e capaz de tudo para lhe por fim, e o outro determinado a evitar a repetição de uma tragédia.
O cenário da terceira história, “O Avião”, decorre na maior aeronave do mundo, na qual embarcam dois jovens apaixonados um pelo outro mas que não se conhecem.
Por fim, o último conto, “A Mulher da sua Morte”, relata-nos a aventura de um jovem imprudente dominado por uma obsessão à qual os amigos tentam por um fim sem grande sucesso.



quarta-feira, 21 de julho de 2010




"Afinal, ele não estava a fazer nada de extraordinário a não ser viver a sua vida calmamente, sem perturbar ninguém. Por outro lado, tive medo do modo como ele poderia ser recebido pelo nosso povo, portanto talvez fosse melhor esperar um pouco. Mas agora não podia esperar mais.
Se ele tivesse o azar de ser apanhado pelos aldeões, seria muito difícil explicar-lhes que aquele humano era um amigo e não um inimigo."

"A refeição decorrera calmamente, quase como se se tratasse de um banquete de novos amigos, ainda tacteando o caminho para saber qual o melhor motivo de conversa. Era curioso, quer Morten, quer os outros homens, haviam fugido das duas únicas coisas que tinham em comum, o seu mundo e a Ilha, o que provava que a cautela dominava a conversa e, como tal, que nenhuma das partes confiava na outra.
Mas Morten conseguiu dominar o medo e aparentar uma tranquilidade que não imaginara ter. Já a noite ia adiantada quando deram a refeição por terminada e Morten pode regressar à sua cabana. Queria aproveitar aquela noite o mais que pudesse, descansar como nunca descansara, dormir como se fosse a última noite da sua vida, fechar os olhos e ficar a ouvir a madeira a aquecer e a estalar no fogo. Não lhe parecia que a guerra ia começar no dia a seguir, mas a sua batalha para impedir aqueles homens de ocuparem a sua Ilha já começara. E o dia seguinte era só o segundo de muitos ao longo dos quais dificilmente poderia usufruir da sua cabana.
Enquanto deitava a lenha no braseiro, Morten sentiu a presença de alguém e respirou fundo, de alívio."

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pedacinhos...


"Já conseguia ver a cabana, sozinha, completamente isolada, o que o fez ganhar forças.
O baú começava a pesar, apesar de não estar muito carregado.
O seu corpo nu começava a reagir ao frio, sendo sacudido por pequenas picadelas que davam o sinal que estava a aquecer.
Apressou o passo, satisfeito por estar perto daquela que seria a sua casa para o resto da sua vida.
Sacudiu a cabeça, projectando pequenos grãos de terra e areia que ainda estavam presos no seu cabelo. Queria atirar fora todas as memórias daquilo que a sua vida fora até ali. Nunca mais queria pensar como fora infeliz ou como, algumas vezes, nem sequer chegara a ser infeliz.
Pousou o baú à porta da cabana e respirou fundo.
Voltou a ter a sensação que estava a ser observado."

"Deixou-se ficar absorto até a sua mente se deslocar totalmente da realidade. Foi abruptamente desperto por um ruído no interior da casa que o deixou receoso. Chegou mesmo a temer entrar, mas depois de pensar alguns instantes, chegou à conclusão que era ridículo ter medo do que quer que fosse.
Entrou e procurou o motivo daquele estranho barulho, sem sucesso. Tudo estava exactamente como ele deixara.
Riu-se de si próprio e decidiu comer qualquer coisa. Afinal, ainda havia muito para fazer e precisava ganhar forças.
O resto do dia passou rapidamente.
Sem percalços, sem barulhos estranhos. Só trabalho para a sua sobrevivência."

"O povo estava reunido em volta da imensa mesa, entretido a escolher entre a carne e o peixe. Mas, tal como sucedia havia séculos, sem qualquer surpresa, optavam pela cerveja. Cerveja, cerveja e mais cerveja. Tanta cerveja que se tornava fácil escolher entre a carne e o peixe: a carne...E o peixe.
Aparentemente, era mais um banquete como qualquer outro entre tantos. Qualquer desculpa servia para fazer um banquete, portanto, havia um todos os dias. Ou melhor, todas as noites e aquela não era excepção.
Animadamente, cantavam e dançavam alto, como se nada no mundo pudesse perturbar aquela vida simples e perfeita. E também sem repararem que o seu rei, apesar de estar presente, mantinha-se afastado."

terça-feira, 6 de julho de 2010

Mais um bocadinho...

"Uma manhã, aconteceu. Abriu os olhos e lá estava ela, sorridente, agachada junto a ele. Estava vestida de azul, um azul tão claro que mais parecia água transparente, o mesmo azul que cobria as pequenas asas. Morten interrogou-se se todos os vestidos dela teriam asas. Queria perguntar-lhe mas receava que muitas questões fossem demasiadas e acabassem por a afastar, tal como temia que, se não fizesse perguntas, se permanecesse calado, ela se fosse embora.
Morten sentou-se, ainda meio ensonado, sem perceber muito bem se estava acordado ou a dormir e, mais uma vez, a sonhar com Freyja."


"Não estava zangada, dificilmente poderia ficar zangada com Morten. Percebera desde o primeiro momento que aquela tristeza era tão genuína e tão profunda que não poderia servir de camuflagem a alguém com intenções menos valorosas. E aquele ar de deliciado, aquele olhar de criança encantada, quando contemplara o mundo dela.
Conseguira arrancar-lhe o primeiro esgar daquele que seria, provavelmente, o seu primeiro sorriso."

"Em lugar de ir para a aldeia, regressou para o castelo.
Era a primeira vez desde que era rei que não passeava pela aldeia ao início da tarde. O seu povo iria estranhar mas, naquele momento, precisava ficar só e tentar perceber como iria explicar a todos que já escolhera a sua esposa e a mãe dos seus filhos.
Apressou o passo e rapidamente chegou ao castelo, onde se recolheu nos seus aposentos, perante o espanto dos trabalhadores.
A palavra que o rei chegara demasiado cedo ao castelo e que estava encerrado nos seus aposentos correu veloz pelo castelo, chegando aos ouvidos do anão.
Embora soubesse que seria insultado e maltratado, o anão percebeu que a situação era demasiado grave para se preocupar consigo próprio e correu para os aposentos do rei, entrando mesmo sem se anunciar."

sábado, 19 de junho de 2010

Nunca o seu reino ficara sem um rei

"Nunca o seu reino ficara sem um rei, a necessidade de encontrar um herdeiro para o trono nunca se colocara ao seu povo.
Os destinos do seu reino estavam nas mãos da sua família desde tempos imemoráveis, sem que alguma vez isso tivesse sido posto em causa. Nunca ninguém o contestara e nunca haviam faltado herdeiros ao trono. Que ele soubesse, não existia sequer uma lei com a solução para o caso de não existir um futuro rei.
O povo tremera na sua ausência, mas a certeza que voltaria para casa era tal que não tinham sequer pensado em encontrar um substituto.
Poderia sempre assegurar o futuro escolhendo o seu sucessor entre um dos aldeãos, mas não fazia ideia de como o povo reagiria a tal decisão."


"Mas só agora percebia realmente o que significava chorar. Quando ouvira as descrições, achara que se tratava apenas de derramar lágrimas, mas compreendia agora o quanto lhe doía a alma, o corpo, a vontade que tinha de desatar a correr por esse mundo fora e gritar até aquela mágoa passar.
Precisava de ser abraçada, de ter alguém que lhe acariciasse o cabelo, que lhe garantisse que tudo ia ficar bem."

sábado, 12 de junho de 2010


"Com sorte, talvez eles fossem menos destemidos que os seus antecessores e acabassem por fugir do rei e do seu povo sem ser necessário recorrer a um conflito. Ou talvez não. Pelo que ouvira contar nas lendas, estes pareciam muito mais preparados para resistir à Ilha. De qualquer modo, não se apercebera de nenhum armamento. Talvez por pensarem que a Ilha era totalmente deserta, e por não acreditarem nas lendas, tivessem decidido que não eram necessárias armas.
Os dois homens despediram-se e partiram para junto do grupo, enquanto Morten se fingiu ocupado com as culturas, vigiando-os pelo canto do olho. De relance, olhou para o bosque, percebendo que o jovem rei observava tudo escondido entre algumas das árvores mais frondosas."


"Apesar da incerteza que sentiam quanto ao estado de Freyja, alguns momentos depois de estarem sentados na Praça de Armas, em frente a uma mesa coberta de delícias e respirando o ar fresco da noite, Morten sentiu-se tão descontraído que seria capaz de adormecer ali sentado. Na verdade, o cheiro da carne quente misturado com os aromas do bosque, o vento suave, o ruído das folhas e, lá ao longe, as vozes alegres dos aldeãos, festejando um rico repasto, faziam com que fosse capaz de viver ali o resto dos seus dias.
Os três permaneceram em silêncio durante muito tempo.
O anão juntou-se a eles para comer."



"O jovem rei deu um salto involuntário na cama, como se tivesse sido sacudido violentamente. Sentiu um forte aperto no peito e soltou um grito. Parecia ser a única forma de aliviar a aflição que o assaltava.
O anão entrou a correr. Acordara com o grito gutural do seu rei e estava assustado. Nunca o ouvira gritar daquela forma.
O jovem rei estava sentado na cama, coberto de suor como se tivesse acabado de sair de dentro de água, respirando de forma ofegante. Os seus olhos esbugalhados, o cabelo completamente escorrido, espalhado pelo tronco.
"

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Mais um bocadinho...




"No seu quarto, Freyja tentava controlar a ansiedade que a dominava. As vozes do povo reunido na Praça de Armas pareciam-lhe felizes, mas podia estar enganada. Sabia que o povo do jovem rei a aceitara como futura rainha, mas tivera sempre uma pequena dúvida e um grande medo sobre como reagiriam no dia do casamento. Afinal, era o dia da verdade, o dia após o qual já não poderiam voltar atrás. E isso poderia levá-los a mudar de opinião…
Queria espreitar para ver como estava a Praça de Armas, mas não queria ser vista.
O jovem rei bateu à porta do quarto, dizendo a Freyja que era altura de descerem.
Ela passou as pequenas e suaves mãos pelo vestido azul e sacudiu as asas, as mesmas asas que Morten tanto gostava. "

"Na cozinha, as mulheres começaram a ferver as infusões para banharem o corpo, mas tentavam manter o lume brando, esperando que o jovem rei chegasse. Nem sequer tinham conseguido perceber se ele queria realmente o corpo preparado a preceito.
O tempo pareceu demorar eternidades a passar mas, na realidade, pouco depois o rei chegou com as Velhas, contrariadas, assustadas e nada preparadas para arranjar um corpo de um humano.
O caminho até ao castelo havia sido feito em silêncio, embora as Velhas desejassem mais que tudo interrogar o seu jovem monarca. Mas ninguém tinha coragem. Ele parecera tão decidido…"

"Todos caminhavam com o rosto virado para o chão, embora o sentimento de alívio se revelasse, de quando em vez, num breve sorriso. Afinal, e apesar do sangue que manchava o chão, dos corpos caídos, dos coxos, dos manetas, dos cegos, afinal, tinham vencido a guerra contra os homens. Mais uma vez. E talvez fosse esta a última.
Fiydin começou a ajudar, mas sabia que deveria voltar ao seu mundo para explicar a Freyja o que se estava a passar com o seu amado.
Mas a tarefa de ajudar os feridos e de limpar a Praça de Armas revelou-se mais difícil e morosa do que aquilo que esperara e o tempo passou quase sem que desse por isso."