segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pedacinhos...


"Já conseguia ver a cabana, sozinha, completamente isolada, o que o fez ganhar forças.
O baú começava a pesar, apesar de não estar muito carregado.
O seu corpo nu começava a reagir ao frio, sendo sacudido por pequenas picadelas que davam o sinal que estava a aquecer.
Apressou o passo, satisfeito por estar perto daquela que seria a sua casa para o resto da sua vida.
Sacudiu a cabeça, projectando pequenos grãos de terra e areia que ainda estavam presos no seu cabelo. Queria atirar fora todas as memórias daquilo que a sua vida fora até ali. Nunca mais queria pensar como fora infeliz ou como, algumas vezes, nem sequer chegara a ser infeliz.
Pousou o baú à porta da cabana e respirou fundo.
Voltou a ter a sensação que estava a ser observado."

"Deixou-se ficar absorto até a sua mente se deslocar totalmente da realidade. Foi abruptamente desperto por um ruído no interior da casa que o deixou receoso. Chegou mesmo a temer entrar, mas depois de pensar alguns instantes, chegou à conclusão que era ridículo ter medo do que quer que fosse.
Entrou e procurou o motivo daquele estranho barulho, sem sucesso. Tudo estava exactamente como ele deixara.
Riu-se de si próprio e decidiu comer qualquer coisa. Afinal, ainda havia muito para fazer e precisava ganhar forças.
O resto do dia passou rapidamente.
Sem percalços, sem barulhos estranhos. Só trabalho para a sua sobrevivência."

"O povo estava reunido em volta da imensa mesa, entretido a escolher entre a carne e o peixe. Mas, tal como sucedia havia séculos, sem qualquer surpresa, optavam pela cerveja. Cerveja, cerveja e mais cerveja. Tanta cerveja que se tornava fácil escolher entre a carne e o peixe: a carne...E o peixe.
Aparentemente, era mais um banquete como qualquer outro entre tantos. Qualquer desculpa servia para fazer um banquete, portanto, havia um todos os dias. Ou melhor, todas as noites e aquela não era excepção.
Animadamente, cantavam e dançavam alto, como se nada no mundo pudesse perturbar aquela vida simples e perfeita. E também sem repararem que o seu rei, apesar de estar presente, mantinha-se afastado."

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