quarta-feira, 6 de outubro de 2010

"Dívida de Honra"

"Renato ficou a contemplar a mesa durante algum tempo, como se procurasse inspiração para se sentir tão entusiasmado como no dia anterior. Mas apesar de se sentir melhor desde que chegara a casa, não conseguia estar tão confiante no interesse de Catarina. Aliás, sentia mesmo pouca confiança em si próprio, nas suas capacidades para manter o interesse de Catarina. Afinal, ele era muito mais velho do que ela.


Talvez Catarina estivesse apenas entusiasmada com a possibilidade de ter algo com um homem mais maduro e decidisse largar tudo quando estivesse satisfeita com a experiência. Ou farta.

- Tenho que afastar estas idiotices da minha cabeça… – disse alto, como se isso fosse capaz de mandar para longe aqueles pensamentos.

Através das frestas das portadas entreabertas, o Sol penetrava na casa de Renato."
 
 
"O primeiro disco em que pegou era de Strauss. Era romântico, mas Catarina poderia não gostar. Lizst também era romântico, mas talvez melancólico demais. Chopin, era isso mesmo, ela gostaria de Chopin, certamente. Mas, para ser honesto, sentia-se sempre um pouco deprimido quando ouvia Chopin.

Voltou a Strauss, depois de pegar em quase uma dezena de discos. Não havia amor como o primeiro e com Strauss até poderiam dançar.

Renato não se lembrava da última vez que dançara. Certamente que fora com a sua mulher, mas não conseguia recordar-se exactamente do momento, o que o fez perceber como as memórias daquela vida que deixara na cidade se estavam a esbater."


Sem comentários:

Enviar um comentário