terça-feira, 30 de novembro de 2010

"A Ilha"

"Os víveres que trouxera amontoavam-se no chão, misturados com as sementes e os rebentos que planeava plantar nos dias seguintes.
Depois de comer, sobrou-lhe pouca ou nenhuma coragem para continuar a por as coisas em ordem. De qualquer maneira, também não precisava de fazer tudo na primeira noite.
Procurou nos sacos uma coberta. Sabia que trouxera duas, bem como uma imensa pele que lhe custara os olhos da cara mas, por mais que procurasse, não as conseguia encontrar. Ou, se calhar, o cansaço ajudado pela falta de paciência não lhe deixavam discernimento suficiente para procurar bem.
Mas a pele lá acabou por aparecer.
Estendeu-a à frente da lareira e deitou-se, adormecendo pouco depois.
Algumas horas mais tarde, o fogo extinguiu-se."
"Embora estivesse certo que não convencera os Anciãos acerca das boas intenções de Morten, o jovem rei acabou por desistir. Afinal, o mais importante estava feito, dizer-lhes que ele tinha que ser protegido como se um olec se tratasse e eles pareciam ter aceitado isso. No dia seguinte, quando falasse com os aldeãos sobre a possibilidade de terem de enfrentar uma guerra, como ficara decidido na reunião com o Conselho dos Anciãos, teria também a oportunidade de lhes contar sobre a presença de Morten e de lhes pedir que o ajudassem no que fosse necessário."

O Grupo "Os Meus Livros - Luz de Lisboa" passo a passo

by Sandra Terenas Moreira on Monday, November 29, 2010 at 6:03pm

Com a vossa ajuda, o nosso grupo "Os Meus Livros - Luz de Lisboa" já chegou aos 100 membros. Obrigada!
Por isso, peço-vos que me continuem a ajudar para chegarmos aos 200.
Para tal, basta que partilhem no vosso mural o link do grupo


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e assim todos os vossos amigos poderão fazer o mesmo. Podem também divulgar junto dos vossos amigos, via email!
Obrigada!


"Os Meus Livros - Luz de Lisboa" Group step by step



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Thanks!

domingo, 21 de novembro de 2010

"O Cravo e a Sepultura"

"Uns lotes ficaram maiores que outros, mas aquele que era agora seu era o mais pequeno de todos.


Lembrava-se de, em criança, passar de carro pela estrada fronteira e ouvir as mesmas histórias vezes sem conta. Tinha tanta raiva do seu antepassado que jurava que quando crescesse compraria todos os lotes e tornaria a transformá-la numa imensa propriedade.


Os pais riam-se, quer da utopia, quer daquilo que viam apenas como um sonho de criança. Nunca ninguém acreditou na sua vontade de reerguer das cinzas aquela propriedade. E fora essa descrença a sua maior força para, em adulto, avançar com o seu sonho.


Sempre fora de ideias fixas e sempre conseguira o que queria, levasse quanto tempo levasse. Desta vez não seria diferente.


Começara devagar, é certo, já que o dinheiro era pouco, mas começara. " 

"Era, de facto, um elemento estranho e, aparentemente, deslocado do cenário. Não tinha qualquer identificação, era impossível saber quem ali repousava.


Mas o mais estranho de tudo era o facto de ser solitária.

De facto, nas restantes propriedades não eram conhecidas quaisquer sepulturas.


Segundo o povo, ali estava sepultado um indigente e por isso fora ali posto, já que aquela propriedade estivera abandonada por longos anos. Outros ainda defendiam que o túmulo vinha dos tempos do senhor da terra e que fora ali posto porque guardava o corpo de um vampiro. Tratava-se de chão sagrado, diziam, logo, a melhor prisão para um ser demoníaco."
in "O Cravo e a Sepultura"

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"Dívida de Honra"

"- Já. E não vou.


Nós tivemos uma bela aventura, meu amigo, mas só fazia sentido continuá-la contigo, por isso, vou seguir a minha vida noutro lado. – Luís estendeu a mão a Aníbal e este apertou-a, puxando-o para si e abraçando-o.

Os dois soltaram-se depois de longos instantes e Aníbal entrou no carro, partindo. Sentia-se mais feliz do que alguma vez se sentira.

Luís saiu de seguida, dirigindo-se para um café no centro da cidade. Pela montra, viu Catarina sentada a uma mesa, lendo o jornal.

- Bom dia.

- Olá. – respondeu ela com um sorriso. Aprendera a gostar de Luís naquelas últimas semanas. Era um bom amigo.

- Já partiram?

- Já.

- E agora? O que é que vais fazer?

- Não sei. E pela primeira vez na vida, não estou preocupado com isso. – ela sorriu."

"- Posso fazer alguma coisa por si?


- Consegue apagá-lo das minhas memórias?

- Não, claro que não. – respondeu Júlia, percebendo que nada poderia fazer que ajudasse Catarina a sentir-se melhor.

Na realidade, Júlia sentia-se agora dividida. Queria ficar com Catarina, fazer-lhe companhia, talvez distrai-la um pouco daquele momento doloroso, mas ansiava por voltar para Aníbal.

- Catarina, eu sei que este não é o melhor momento, mas tenho que voltar para a cidade. É melhor preparar-se.

- Será que seria pedir muito se eu quisesse ficar aqui mais uns dias? – Júlia ficou um pouco surpreendida com o pedido de Catarina, mas era compreensível. Ela tinha ainda uns dias antes de voltar ao trabalho e ficar naquele sítio tranquilo talvez a pudesse ajudar."

in "Dívida de Honra"

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"O Cravo e a Sepultura"

"Ficara sempre acordado, incapaz de dominar aquela alegria de ter conseguido parte do seu objectivo e de se sentir, pela primeira vez na vida, em sua casa. Afastara-se apenas para ir buscar um cigarro.
O seu último olhar fora para a sepultura e, quando voltou, o primeiro voltou a ser para ela. E, para seu espanto, algo mudara.
Pareceu-lhe ver um objecto pousado sobre a campa, um objecto colorido, mas não conseguia perceber o que era.
Saiu de casa e aproximou-se da sepultura, tentando descortinar do que se tratava, mas a Lua escondera-se por detrás das nuvens, escurecendo tudo. Teve a sensação que alguém fugia, saltando o pequeno muro coberto de musgo que separava a sua propriedade da vizinha."
"O Cravo e a Sepultura"
"Quando a noite caía e Daniel saía para esperar por ela, encontrava apenas a sepultura, sozinha, vazia por fora, quase como se não valesse nada sem o cravo vermelho.
Sentia-se triste, ainda mais triste perante aquele cenário. Ali ficava, acordado, desesperado, com os olhos o mais escancarados possível, pestanejando o menos que fosse capaz, com medo de, ao perder alguns segundos de visão, perder também a hipótese de a ver.
Mas, noite após noite, ela continuava sem aparecer, deixando-o cada vez mais vazio. De manhã, voltava para casa e dormia, até a noite chegar novamente.
Mesmo o seu sono não conseguia ser sossegado, ausente daquela mulher, daquele espectro."
in "O Cravo e a Sepultura", "Pequenas Histórias para Entreter"