quinta-feira, 25 de março de 2010

Mais um bocadinho de "A Ilha"...

Mais um bocadinho de "A Ilha"...

"Sem se aperceber, atravessara quase todo o bosque e estava à frente de um castelo.
As pedras pareciam observá-lo, como se fossem os guardas, inspeccionando-o antes de o deixarem entrar.
Espreitou, procurando certificar-se que não havia ninguém por perto. E, para seu espanto, deparou com a pequena figura de Freyja caída no chão, quase como se fizesse parte dele.
Morten correu na sua direcção, ajoelhando-se junto dela.
Suavemente, acariciou-lhe o rosto mas não obteve qualquer reacção.
Passou o seu braço por debaixo do pescoço dela, elevando-a e pousando a cabeça no seu colo. Mas nada.
Morten olhou em redor e gritou por socorro.
O anão espreitou de uma das portas mas não conseguia acreditar no que via. O forasteiro. O forasteiro tivera a coragem de chegar até ali. E estava com Freyja.
Chamou o seu amo, enquanto correu em resposta a Morten.
O jovem rei olhou pela janela do seu quarto, procurando perceber a aflição do seu servo. O seu coração apertou-se de repente quando viu Freyja caída e nem a presença de Morten o conseguiu distrair da ideia que algo acontecera à sua futura esposa."

quinta-feira, 11 de março de 2010

Mais uns bocadinhos de "A Ilha"

"O jovem rei tinha uma enorme curiosidade em conhecer o estranho. Se ele e os do seu mundo não pretendiam invadir a Ilha, então o que o fizera mudar-se para ali? Porque estava ali sozinho? E, principalmente, porque é que Freyja parecia estimá-lo tanto?
- Continua preocupado com esse estranho, meu rei? – perguntou o anão. O rei suspirou profundamente. Não se podia dizer que estivesse preocupado.
- Estou mais intrigado que preocupado.
- Acha que vale a pena contar ao povo que esse homem está na Ilha?
- Por agora, não. Chega de problemas. E depois, se ele não fez nada até agora, talvez seja melhor deixar as coisas como estão. – o jovem rei desistiu de observar Morten. Afinal, ia acabar por ficar horas a vê-lo tratar das suas culturas, limpar em redor da casa, dormir uma sesta, regar as culturas, vigiar o peixe enquanto este secava e, enfim, entrar em casa e só regressar no dia seguinte, para a mesma a rotina."

"A Assembleia esperava por Freyja.
A rainha nunca se atrasava mas desta vez estava a demorar e todos sabiam porquê. Pela primeira vez, estava nervosa e não o escondia de ninguém. Tinham que entender que ela era igual a todos os seus súbditos e que, uma vez entregue no seu destino nas suas mãos, sentia-se insegura e assustada. Afinal, sentira-se forte o suficiente para submeter o seu amor à aprovação do seu povo, revira todas as consequências e prepara-se para enfrentar qualquer decisão."

quinta-feira, 4 de março de 2010

Novos excertos de "A Ilha"

Novos excertos de "A Ilha"

"- Pedimos desculpa, mas é um assunto demasiado... como dizer... – o rei estranhou a conversa, mas dada a cara de caso que as duas tinham, resolveu sentar-se e convidá-las a fazerem o mesmo.
- Então, o que é que se passa?
- Bom, as mulheres da aldeia reuniram-se. – o rei franziu o sobrolho. Conhecia bem as mulheres da sua aldeia e quando elas se reuniam, nunca era coisa boa.
Eram teimosas e determinadas e quando decidiam fazer algo, era precisa muita arte para as convencer do contrário. Permaneceu em silêncio, esperando que elas continuassem a conversa, mas as duas pareciam demasiado atrapalhadas para avançar com a conversa.
- Bom, afinal, vão falar ou não?
- É um assunto muito sério, sabe...
- Já percebi, mas o que é que pode ser tão sério que vos deixe assim tão encabuladas? Vocês sempre tiveram a língua tão solta..."


"O jovem rei abandonou o castelo discretamente, como se se estivesse a preparar para dar um longo passeio.
Caminhou pelo bosque, devagar, procurando desfrutar de tudo como se fosse a última vez que o fazia. O cheiro a erva fresca, o ruído do vento a brincar com as folhas das árvores, os pequenos pássaros a voarem tão baixo que quase lhe arrancavam os cabelos.
A meio do caminho parou.
Sentou-se no chão e fechou os olhos.
Queria ficar ali o resto da sua vida, no meio das coisas simples, rodeado por tudo aquilo que nunca o poderia magoar.
Lembrava-se de quando era pouco mais que uma criança e passeava pelo bosque com o seu pai. De como aprendera a respeitar as flores, as árvores, os pássaros. A respeitá-los como se fossem seus irmãos.
Lembrava-se de como achava que tudo era mágico no bosque, como se falassem com ele, como se lhe dessem conselhos, o chamassem para brincar.
Sempre que passeava naquele local, tinha aquela sensação, como se tudo ganhasse vida."