domingo, 21 de novembro de 2010

"O Cravo e a Sepultura"

"Uns lotes ficaram maiores que outros, mas aquele que era agora seu era o mais pequeno de todos.


Lembrava-se de, em criança, passar de carro pela estrada fronteira e ouvir as mesmas histórias vezes sem conta. Tinha tanta raiva do seu antepassado que jurava que quando crescesse compraria todos os lotes e tornaria a transformá-la numa imensa propriedade.


Os pais riam-se, quer da utopia, quer daquilo que viam apenas como um sonho de criança. Nunca ninguém acreditou na sua vontade de reerguer das cinzas aquela propriedade. E fora essa descrença a sua maior força para, em adulto, avançar com o seu sonho.


Sempre fora de ideias fixas e sempre conseguira o que queria, levasse quanto tempo levasse. Desta vez não seria diferente.


Começara devagar, é certo, já que o dinheiro era pouco, mas começara. " 

"Era, de facto, um elemento estranho e, aparentemente, deslocado do cenário. Não tinha qualquer identificação, era impossível saber quem ali repousava.


Mas o mais estranho de tudo era o facto de ser solitária.

De facto, nas restantes propriedades não eram conhecidas quaisquer sepulturas.


Segundo o povo, ali estava sepultado um indigente e por isso fora ali posto, já que aquela propriedade estivera abandonada por longos anos. Outros ainda defendiam que o túmulo vinha dos tempos do senhor da terra e que fora ali posto porque guardava o corpo de um vampiro. Tratava-se de chão sagrado, diziam, logo, a melhor prisão para um ser demoníaco."
in "O Cravo e a Sepultura"

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