segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"O Cravo e a Sepultura"

"Ficara sempre acordado, incapaz de dominar aquela alegria de ter conseguido parte do seu objectivo e de se sentir, pela primeira vez na vida, em sua casa. Afastara-se apenas para ir buscar um cigarro.
O seu último olhar fora para a sepultura e, quando voltou, o primeiro voltou a ser para ela. E, para seu espanto, algo mudara.
Pareceu-lhe ver um objecto pousado sobre a campa, um objecto colorido, mas não conseguia perceber o que era.
Saiu de casa e aproximou-se da sepultura, tentando descortinar do que se tratava, mas a Lua escondera-se por detrás das nuvens, escurecendo tudo. Teve a sensação que alguém fugia, saltando o pequeno muro coberto de musgo que separava a sua propriedade da vizinha."
"O Cravo e a Sepultura"
"Quando a noite caía e Daniel saía para esperar por ela, encontrava apenas a sepultura, sozinha, vazia por fora, quase como se não valesse nada sem o cravo vermelho.
Sentia-se triste, ainda mais triste perante aquele cenário. Ali ficava, acordado, desesperado, com os olhos o mais escancarados possível, pestanejando o menos que fosse capaz, com medo de, ao perder alguns segundos de visão, perder também a hipótese de a ver.
Mas, noite após noite, ela continuava sem aparecer, deixando-o cada vez mais vazio. De manhã, voltava para casa e dormia, até a noite chegar novamente.
Mesmo o seu sono não conseguia ser sossegado, ausente daquela mulher, daquele espectro."
in "O Cravo e a Sepultura", "Pequenas Histórias para Entreter"

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